Identificação e descrição | |
---|---|
Nome do parque/jardim | Jardim do Palace Hotel do Bussaco |
Região | Centro |
Distrito | Aveiro |
Concelho | Mealhada |
Freguesia | Luso |
Data de criação | XIX |
Tipo de proprietários | Proprietário privado |
Informação de contacto | Palace Hotel do Bussaco - Mata do Bussaco3050-261, LusoTel: +351 231 937 970Tel: +351 969 524 526Fax: +351 231 930 509E-mail: bussaco@almeidahotels.com |
Página web: http://www.bussacopalace.com/pt | |
Página web: http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74851/ | |
Página web: http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5690 | |
Página web: http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=7004 | |
Localização | Coordenadas: 40º 22' 31,39''N, 08º 21' 55,61''W Latitude: 40.3753861111111 Longitude: -8.36544722222222 |
Primeiro foi a escolha da paisagem e essa foi feita por homens que muito sabiam da contemplação da natureza e do contacto com o transcendental para onde a visão do mundo natural os transportava. Foram os frades Carmelitas que procuraram lugar para o seu Deserto, onde rezar e estar longe de tudo. Ao descobrir o Buçaco deixaram escrito “Aqui é vontade de Deus que se funde; murem este sítio, que tem nele o melhor deserto da Ordem: porque se agora inculto, rude e tosco, é o que admiramos, cultivado, será um paraíso terreal” Ao longo dos séculos tanto religiosos como leigos sentiram a força daquela paisagem e nela foram deixando a sua marca, juntando peças sobrepostas e difíceis de identificar, se não conhecermos a sua história. Quando hoje subimos ao Buçaco, por meio de densa vegetação, fragas e muito musgo, começamos ao contrário no tempo, ou seja, principiamos por uma paragem na Fonte Fria e no lago, ambos do século XIX e correspondendo às intervenções finais do Buçaco: começamos pois pelo fim. Subimos até à área aberta e plana onde assentam o Palácio e jardins do Hotel do Buçaco, também imaginada no século XIX e construída até 1911. Tal como no Palácio da Pena, a construção romântica do século XIX absorveu e enquadrou a casa conventual do século XVII. Só depois, a partir do grande terraço do jardim florista luminoso e bem tratado, conseguimos entrar nos trilhos e na longa ascensão pela mata, pela paisagem sacralizada do século XVII, até à cruz alta pela via-sacra com os Passos de Cristo marcados por capelas. Hoje o Buçaco concentra na sua Serra a marca humana religiosa que exaltava a natureza através de Deus, usando a água das fontes, as vistas, a vegetação e as construções sóbrias e modestas do século XVII e XVIII; mas no mesmo espaço se veio instalar o recreio romântico, a exaltação das emoções estéticas pela proximidade da Natureza que o século XIX “inventou” e trouxe a todos através do turismo e da Hotelaria. O Buçaco tem dois tempos e convém apresentá-los separadamente. Primeiro foram os Carmelitas que se encantaram pela paisagem, e em 1628 principiaram a construção, instalando-se nela em 1630. Deste mosteiro ou Deserto já pouco existe pois sobre ele foi construído o Palácio Hotel com arquitetura tardia do século XIX, mas reconhecemos hoje no sitio o frontespício da igreja. No seu início o Buçaco era assim uma paisagem sacralizada que terminava junto ao Céu, celebrando um Deus, e que hoje ainda nos deixa a emoção das formas da Natureza trabalhadas pelo Homem. Em 1834 as Ordens foram extintas, os monges saíram e em 1847 a Mata passou para a posse das Matas do Reino e a parte sagrada da paisagem desapareceu, ficando a grande coleção botânica, os trilhos, as vistas e o terreno fértil para se iniciar a segunda parte da história do Buçaco, mas não sem turbulência, pois a marca de simplicidade de toda a cerca iria ser substituída pela arte de um romantismo que construía grande e vistoso. A Fonte Fria foi a peça de transição que gerou polémica; estávamos no reinado de D. Luís I, 1866, ano em que é nomeado Emídio Navarro para Ministro das Obras Públicas, quando foi construído o grande escadório em dez lances geométrico majestoso por onde descia a água, intercetando em alguns lances as escadas para dar lugar às biqueiras. A crítica não se fez esperar atingindo a mudança radical do estilo simples da arquitetura para a opulência da decoração que veio a ser adotada no Buçaco. E ouve-se a queixa sobre o agigantado e descomunal escadório da Fonte Fria. Quando hoje o subimos, tão cheio de musgo e de tempo, não percebemos a polémica; mas faz sentido que a alteração introduzida no século XIX tenha chocado quem defendia um património genuinamente próximo da arte da Natureza. Em 1877 é entregue um projeto, encomendado à firma Roda e Figli de Turim e, à imagem do Parque da Pena. Outro projeto é encomendado a Manini agora não para um parque mas para um Palácio, e em 1888 é lançada a primeira pedra. Até 1911, acompanham a “sumptuosa” obra 4 arquitetos: Manini, Norte Júnior, Nicola Bigaglia e José Alexandre Soares que irão dar corpo a um edifício que, sendo palácio, tinha passado à função de Hotel; e em 1907 em resposta a um concurso público Paul Pergamin assina contrato como concessionário do Palace Hotel do Buçaco. É de notar que em 1907 se inaugura também a linha de comboio Sud-Express que nos ligou a Paris e em 1908 já aparece no Guia de viagens “Manuel do Voyageur de Baedeker” duas páginas com elogios, preço e um mapa da mata do Buçaco. Rapidamente o Buçaco passou a ser uma estância de Verão dos estrangeiros radicados em Portugal e um refúgio europeu durante as guerras. Associado a esta intervenção surge em 1917 um grande empresário da região, Alexandre Almeida; a partir deste momento a função turística torna-se prioritária com a justa fama de um lugar de eleição onde o turista de alto nível encontra um ambiente excecional de palácio com serviço hoteleiro de referência, uma cozinha e uma garrafeira de nomeada e ainda a marca histórica da estadia do Duque de Wellington pelo lugar, antes e depois da Batalha do Buçaco em 1810, e de muitas celebridades mundiais. O Palace Hotel do Buçaco continua na família de Alexandre de Almeida e mantém a sua fama, levando ao Buçaco milhares de hóspedes que se espalham pelo jardim e pela Mata em passeio. (Castel-Branco, 2014)
Mata Nacional do Bussaco
Apesar de confundidos com a presença fortíssima do Palácio Hotel neomanuelino, a grande marca da construção deste Deserto era a sobriedade, a grandeza sem fausto, a intimidade com a Natureza levada ao ponto de se deixarem as grandes fragas de granito dentro da construção humana e se revestirem as paredes a cascalho, ou seja o que designamos de embrechados enriquecido no Palácio Fronteira, também seiscentista, mas que no Buçaco tem apenas pedras pretas, brancas e ocre, sem conchas nem vidros sem porcelanas. Este despojamento que se funde com o amor à Natureza é talvez o que mais nos interessa na obra do Buçaco no século XVII e já foi interpretada do ponto de vista místico como uma arquitetura aludindo a Jerusalém. Os Carmelitas foram então criando uma nova paisagem construindo uma cerca de 4km que evitava que a população viesse recolher lenha, e todos os anos plantando nela árvores silvestres. É assim que os primeiros Cupressus lusitanica são identificados por Tournefort, botânico francês que visitou Portugal e os descreve em 1686 no Buçaco, e no poema Soledades do Buçaco, de D. Bernarda Lacerda, são referidas muitas espécies que Ilídio de Araújo identifica cientificamente: “...correponsderão às seguintes espécies: Acer pseudoplatanus, Junniperus communis, Fraxinus angustifolia, Quercus robur ou Pyrenaica, Ulmus Glabra, Cupressus sempresvirens stricta, Laurus nobilis, Populus nigra, Amygdalis communis“ , permitindo-nos imaginar a serra com árvores variadas e novas, obra dos monges Carmelitas. Esta paisagem cultural foi-se também fazendo com a construção de ermidas de habitação, para onde os monges Carmelitas se retiravam em solidão, mas ainda com a intervenção de outros apaixonados pelo Buçaco como o Reitor da Universidade de Coimbra, Manuel de Saldanha, que ali recriou o Sacromonte abrindo o trilho onde se iriam construir os pontos de paragem de uma Via Sacra com os Passos da Paixão de Cristo – seis capelas do Orto de Getsmanis ao Pretório de Pilatos e da Sua Paixão marcada por nove capelas do Pretório ao Calvário. A ascensão pela Serra passa então a ser um ato religioso e faz-se ainda hoje com sacrifício por um trilho íngreme em que ermidas, fontes, capelas e degraus sempre revestidas a embrechados repetem a marca de despojamento do Deserto. Infelizmente o turista não as sabe interpretar nem identificar, e vamos levados até à Cruz Alta, até à luz, até à paragem merecida, apreciar a vista que se abre completa para a Serra da Lousã, a da Estrela, e o vale do Mondego até ao mar. O jardim em frente ao Palace Hotel do Buçaco é composto por um parterre bem tratado de canteiros formando um círculo desenhado em broderie e envolto em canteiros de rosas rematados acima por uma longa pérgola de glicínia que, por altura da floração, se transforma num túnel roxo de flores penduradas e de pétalas no chão. Ao fazer este caminho termina-se num caramanchão que sustenta uma Fagus sylvatica pendula que convida a sentar à sombra em frente ao lago dos cisnes. Aqui o romantismo atinge o seu pleno com o Palace Hotel a refletir-se num lago rematado a rochas naturais; mas há ainda outros lago mais acima com uma Sophora japónica pendula, um arco e árvores de coleção que anunciam já ali perto o Bosque sagrado dos Carmelitas. A mata é hoje gerida pela Fundação da Mata do Buçaco que a mantém e divulga com visitas guiadas, gift shop e programas diversos. (Castel-Branco, 2014)
Estatuto: Privado
Classificação: IIP - Imóvel de Interesse Público
Instrumento legal:Declaração de Rectificação n.º 10-E/96, DR, I Série-B, n.º 127, de 13-05-1996
Principais espécies botânicas presentes: Acer pseudoplatanus, Junniperus communis, Fraxinus angustifolia, Quercus robur ou pyrenaica, Ulmus glabra, Cupressus sempresvirens stricta, Laurus nobilis, Populus nigra, Amygdalis communis, Fagus sylvatica pendula, Buxus sempervirens
(Dados do Instituro Português do Mar e da Atmosfera)
Tipo de clima: Csb - Clima mediterrânico com verão seco e temperado (Classificação de Koppen)
Temperatura:
- Temperatura máxima mensal: a mais elevada, 24.4 ºC (em agosto); a menos elevada, 14.4 ºC (em janeiro)
- Temperatura média mensal: a mais elevada, 20.4 ºC (em agosto); a menos elevada, 10.4 ºC (em janeiro)
- Temperatura mínima mensal: a mais elevada, 16.2 ºC (em agosto); a menos elevada, 6.3 ºC (em janeiro)
- Temperatura média anual: 15.6 ºC
Precipitação: 944.0 mm (precipitação total média anual)
CASTEL-BRANCO, Cristina. Jardins de Portugal. Lisboa,CTT, 2014
Elementos decorativos : Topiária, Edifício, Pérgola, Via Sacra, Curso de água, Fonte, Canal, Cascata
Elementos vegetais : Árvores notáveis, Arbustos
Estatuto : Privado
Abertura ao público : Aberto ao público
Classificado : Imóvel de interesse público
Mobilidade reduzida : desconhecido