A cor cinzenta das oliveiras coa a luz dourada que vem do mar quando passamos a capelinha da Boa Viagem, onde tudo se mantém há vários séculos, para descanso de quem viaja: o alpendre, com colunas e bancos corridos de granito, a sombra das carvalheiras, a água do ribeiro e a luz refletida no mar. Ao entrar, entre muros de granito que suportam uma latada, surge o solar, acentuando-se a sua dignidade pela subida e a sombra por onde avançamos. A fachada, a escadaria, a varanda e a torre brilham ao sol. É um antigo solar minhoto, com vista para o mar onde há séculos a vida se mantém e ainda hoje a família vive. No espaço murado da Boa Viagem o jardim e a quinta entremeiam-se e fundem-se. Sentados em bancos de granito onde tantos se sentaram, por baixo da magnólia e do castanheiro, ouvimos e vemos o mar e ali ao lado o tanque encostado ao muro donde a água corre fresca, vinda do fundo da terra, pelas minas furadas no granito, seguindo depois pelas caleiras junto ao caminho lajeado e coberto por uma latada larga, assente em esteios de granito: de um lado jarros, árvores exóticas e muros capeados a granito esculpido, do outro o laranjal regado com a água que vimos chegar ao tanque e se distribui agora pelas caleiras que um Fernando, um Gonçalo ou um José Villasboas mandou preparar para o seu secular percurso, certo e seguro na pedra das regadeiras, sempre a descer até aos pés das cameleiras, às caldeiras das laranjeiras e pela horta fora. (Castel-Branco, 2014)