O jardim da quinta de Santo Amaro (Suçães) é pequeno e tem muitas plantas bem tratadas e plantadas no sítio certo: os buxos talhados em bola formam um primeiro plano verde e geométrico que se abre em caminhos sobre um fundo de cameleiras que crescem sem serem talhadas. São brancas e vermelhas e ainda estão em flor quando no plano que lhes fica atrás começam a florir as cerejeiras. Tudo brilha sobre um fundo cinzento azulado da copa contínua das oliveiras que se estende no ondular da paisagem, transbordando da seiva fértil da Primavera. Alguém soube escolher bem o sítio para construir, no muro que separa o universo do jardim cuidado e a paisagem livre, um lugar para sentar e contemplar a paisagem... a dois. É uma namoradeira especial para onde é preciso subir por degraus que nos elevam e aumentam o ângulo de visão, o ponto de perspectiva e a profundidade dos campos agrícolas. À nossa frente, o pedaço de terra que se eleva docemente até ao alto da colina, depois do olival, podia ter sido projetado e plantado por Capability Brown; o festo foi marcado por uma correnteza de árvores que acentua a linha de recorte entre o céu e a terra, uma receita daquelas que deram a Brown a alcunha de Capability pois dizia sempre que era preciso promover na paisagem a sua máxima capacidade (capability) estética. Há ainda linhas irregulares de árvores e arbustos que parecem seguir densamente uma linha de água e descem contínuas do feto até ao olival e finalmente, como fazia Capability, cada árvore que foi isoladamente plantada parece ter seguido uma pintura de pintor paisagista e completar em harmonia a composição deste cenário de princípio de primavera. (Castel-Branco,2014)